quarta-feira, 30 de julho de 2008

Uma alma encontrada, mas ainda existem muitas perdidas!

Este ano, mais precisamente, em fevereiro de 2008, um amigo colocou as fotos de um mendigo em sua página no site de relacionamentos Orkut. Eu achei estranho, apesar de saber que o meu amigo tem algumas idéias revolucionárias e vive a vida na cena underground de Fortaleza. Uma foto tudo bem, mas várias? Estranho, não acham?

Este mendigo, eu acho que muitos já o viram nas ruas do centro de Fortaleza. Ele é alto, magro, tem os cabelos cumpridos (parecidos com o cabelo do astro do reggae, Bob Marley). Pode ser difícil de identificar, já que todos nós os achamos muito parecidos. Podem se parecer fisicamente, surrados pelas dificuldades da vida, pela falta de dinheiro, por decisões mal tomadas ou simplesmente por acharmos que são loucos da rua, pessoas que perambulam pelas ruas da cidade. São almas perdidas.


Almas que passam despercebidas, mas este mendigo, que já tem quase 40 anos me chamava à atenção, pois sempre estava contando, nunca o via pedindo esmola e estava sempre fumando e tomando café. Uma figura diferente dos pedintes que encontramos e que não os respeitamos por se entregarem a esmola como meio de vida.


O nome deste senhor é Sílvio Tadeu da Cruz, eu descobri o seu nome através das fotos do Orkut do meu amigo e através dele soube de sua história de vida. A sua identidade foi descoberta por um integrante da banda Rebel Lion, que teve a mesma curiosidade que a minha, mas a dele foi mais forte e fez com que tomasse uma iniciativa.


Este rapaz abordou o mendigo e conseguiu descobrir o nome dele. Depois disso, foi atrás dos seus parentes e descobriu que Sílvio era de uma família de classe média de São Paulo. O mendigo sofreu alguns traumas emocionais após presenciar a morte do irmão, largou o curso de engenharia e foi internado, mas fugiu e até algum tempo atrás estava perdido pelas ruas de Fortaleza. A família de Sílvio veio a Fortaleza e o levou de volta para casa.


Descobri o motivo dele viver contando, soube também que era um homem de hábitos e percebi que todo homem ou mulher tem uma história de vida que deve ser considerada, todos devem ser respeitados não pela sua classe social, mas por ser igual a nós. Imagino que todos nós respeitamos, mas o que fazemos na prática?


Somos todos iguais e são atitudes como a do integrante da banda Rebel Lion, que me faz perceber a importância da solidariedade, da preocupação com o próximo. Vivemos em um mundo, onde a maioria das pessoas vislumbra o seu bem estar pessoal. Não estamos errados em viver as nossas vidas, mas também não precisamos fechar os olhos para as almas perdidas que caminham pelas ruas, são pessoas que têm uma história e que não precisam de nada mais que uma oportunidade ou algumas horinhas de atenção.


Sou contra a esmola, mas sou mais contra ainda, a estagnação e a indiferença com o próximo. Nós fazemos parte da desigualdade social que assola este país, com nossos vidros fechados e ares de superioridade. Sei que temos que nos proteger da violência, mas também podemos combatê-la da mesma forma que o mendigo Sílvio Tadeu foi ajudado.


http://www.opovo.com.br/opovo/fortaleza/764750.html


Tiago Becker

2 comentários:

Anônimo disse...

Tiago, parabens pelo exemplo apresentado no texto e pelas palavras muito bem escritas.

abraço,

Luana

Anônimo disse...

Gostei do texto, pois a pouco tempo li um livro que fala exatamente sobre este assunto. Mendigos sem identidade, que tem seus corpos levados para faculdades de medicina para serem estudados e até zombados.
O livro se chama "O Futuro da Humanidade - Augusto Cury."