quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Fiel aos seus princípios – Desejo de PAZ!

Antes de começar o programa de Trainee li um livro muito interessante chamado “As Sete Maiores Descobertas Científicas da História”. O primeiro capítulo deste livro, A Gravidade e as Leis Básicas da Física, fala sobre como as filosofias antigas morreram lenta e relutantemente durante a Renascença. Mostra como o “mundo” deixou de acreditar no Universo Geocêntrico e, em seu lugar, passou a defender e a ensinar o Universo Heliocêntrico. Conta como vários “homens” morreram queimados após julgados pelo “Tribunal do Santo Ofício” na época da Inquisição – que significa perguntar, averiguar – uma instituição muito complexa, com objetivos ideológicos, econômicos e sociais, expressos de forma consciente e inconsciente.

Dentro deste capítulo quero destacar a Carta de Galileu Galilei à Madame Cristina de Lorena e seu discurso de quando foi julgado. (Coloquei boa parte dos textos pois acho o poder de argumentação de Galileu claro, lógico e razoável e decidi compartilhar com aqueles que não leram o livro.) Ele diz que não acredita que Deus nos dotou de razão, intelecto e sentidos esperando que estes não fossem usados na busca do conhecimento. O que foi escrito para defender seus princípios e de Copérnico sobre o Heliocêntrismo pode ser aplicado hoje, numa época onde as pessoas ainda se agridem física e oralmente, em que o homem consegue esquecer que é racional e agir com mais violência e irracionalidade que um outro animal qualquer, onde ao invés da inteligência ser usada para FAZER O BEM ela é pervertida em prol da ganância humana, onde ao contrário de usarem a razão usam a ambição para tomar e defender suas decisões e para desrespeitar o próximo e seu espaço. A violência de hoje nos impõe um dia-a-dia desconfortável onde as maiores ameaças ao homem é o próprio homem. É aquele homem que não propõe o bem, mas sim a satisfação dos seus interesses próprios. É inadmissível que em tempos de uma gigantesca evolução tecnológica ainda tenhamos que viver à sombra do medo da irracionalidade humana. Não perco a esperança na humanidade! Continuo acreditando que um dia conseguiremos viver em harmonia com o próximo, respeitando os limites. Espero que a chegada deste “dia” não demore demais pois percebo que a sociedade está aflita e clama por segurança e tranqüilidade para poder usufruir do deireito de ir e vir. E enquanto este dia não chega só nos resta esperar pacientemente e fazer bom uso dos dotes que Deus nos deu.

Carta à Madame Cristina de Lorena:
“Alguns anos atrás [...] descobri no céu muitas coisas que não tinham sido vistas antes de nossa época. O caráter de novidade dessas coisas, bem como algumas conseqüências que delas decorriam contradizendo as noções físicas comumente acalentadas entre os filósofos acadêmicos, incitaram contra mim um número bem considerável de defensores dessas noções – como se eu as tivesse posto no firmamento com minhas próprias mãos com o intuito de perturbar a natureza e subverter as ciências [...] Demonstrando maior apreço por suas próprias opiniões do que pela verdade, eles procuraram negar e refutar as coisas novas que, caso houvessem tido a preocupação de verificar por si mesmos, seus próprios sentidos lhes comprovariam. Com esse fim, desferiram várias acusações e publicaram numerosos escritos repletos de argumentos vãos, e [...] lançaram contra mim acusações de crimes que devem ser, e são, mais abomináveis para mim do que a própria morte [...] Afirmo que o Sol situa-se imóvel no centro da revolução do orbe celeste, enquanto a Terra gira sobre seu eixo e faz revoluções em torno do Sol. Eles [...] decidiram fabricar um escudo para suas falácias com o manto de uma religião simulada e da autoridade da Bíblia [...] Não lhes foi difícil encontrar homens que em seus próprios púlpitos pregassem ser a nova doutrina condenável e herética [...].”
Em sua carta à Madame Cristina, Galileu apelou à lógica em detrimento da emoção:
“Não me sinto na obrigação de acreditar que o mesmo Deus que nos dotou de sentidos, razão e intelecto tencionava descartar o uso detes e por algum outro meio nos dar o conhecimento que com eles podemos obter [...] A intenção do Espírito Santo é nos ensinar como se vai para o céu, e não como o céu funciona.”

Galileu, o mais renomado cientista europeu da época, teve fé na demonstração de seus princípios e solicitou aos dignitários da Igreja que revogassem o dogma e a autoridade das Escrituras nos quais haviam baseado sua acusação. Mas, apesar de sua idade, de sua saúde precária e, de fato, da clara verdade de suas palavras faladas e escritas, chegou-se ao veredicto: as idéias de Galileu, assim como as de Copérnico, foram declaradas “falsas e errôneas”, sendo-lhe ordenado retratar-se publicamente e nunca mais ensinar a teoria copernicana. Assim, 33 anos depois de Giodano Bruno ter sido queimado vivo, Galileu defrontou-se com a mesma escolha imposta a Bruno. Em uma decisão que alguns criticaram como prejudicial à causa da ciência, Galileu escolheu a vida. Em 22 de junho de 1633, ele fez uma longa retratação, incluindo o trecho a seguir:
“Eu, Galileu Galilei [...] aos setenta anos de idade [...] e ajoelhado diante de vós, Eminentíssimos e Reverendíssimos Senhores Cardeais [...] juro que sempre acreditei, acredito agora e, com a ajuda de Deus, acreditarei futuramente em tudo o que é aceito, pregado e ensinado pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana [...] Visto que, após me ter sido feita a injunção judicial por esse Santo Ofício [...] para que eu abandone por completo a falsa opinião de que o Sol é o centro do mundo e imóvel, e de que a Terra não é o centro do mundo e se move, e me proibindo de aceitar, defender ou ensinar [...] a dita doutrina [...] escrevi e imprimi um livro no qual discuto essa doutrina [...] e por essa razão apontou-me o Santo Ofício como veementemente, suspeito de heresia [...] Assim sendo, visando dissipar [...] essa fonte suspeita [...] abjuro, amaldiçôo e abomino os já mencionados erros e heresias, e de um modo geral todo e qualquer erro e seita que de qualquer maneira sejam contrários à Santa Igreja [...] Eu [...] jurei, prometi e me comprometi conforme acima [...].”
Diz a lenda que Galileu, ao erguer-se de sua posição de joelhos, teria murmurado “E pur, si muove” – “E, no entanto, ela se move.”

Catarina Guimarães

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei fantastica a transicao efetuada com o pensamento de Galileu e os dias atuais. Entendo que isto eh realmente o processo criativo pois faz novas associacoes criando um novo cenario. Parabens pela excelente escolha, estilo literario e requintado intelecto. Continue assim e o mundo lhe sera cada vez mais revelado. Sua fa, Valeria